Música 13
DEIXEI DE PLANTAR CAFÉ e LELEÔ
A primeira aprendi com a trabalhadora rural e mestra, Rosália Gomes dos Santos, da Vila Fernandes em Arapiraca, Alagoas.
Dona Rosália traz na memória incontáveis cantos de trabalho. Desde muito pequena foi trabalhar nas plantações de fumo e começou a ouvir aqueles belos cantos na época de destalar o fumo. Logo que pode, se uniu às mulheres e aprendeu a improvisar versos e a soltar a linda voz na cantoria.
Essa cantiga fala sobre as transformações no meio rural nordestino com a chegada das usinas de cana de açúcar que vieram desestruturar a pequena produção de cultivos alimentares e fizeram os trabalhadores deixarem suas roças e irem para o plantio de cana, sendo praticamente escravizados pelos donos das usinas, o que acontece até os dias de hoje.
A cantiga Leleô vem das plantações de cana de açúcar na Bahia, do período em que ainda cantavam durante o trabalho, usando os próprios facões como instrumentos sonoros, um jeito de aliviar a dureza e humanizar aquele trabalho tão sofrido.
Esse canto foi registrado num documentário de Leon Hisrzman, Canto de trabalho – Cana de açúcar, na década de 1970. Achei que seria interessante mesclar as duas melodias, sendo que conversam pelo tema e musicalmente. Tarita embarcou nessa ideia e foi muito além, criando uma conversa sonora onde podemos sentir a força e beleza das duas cantigas.
Renata Mattar é responsável pela pesquisa de repertório.